Quando a mágica acontece a gente não precisa sair de casa. Por vezes, a gente não precisa fazer nada de especial. A mágica só acontece assim, em meio a liberdade do nada, quando você faz coisas sem apego ao resultado e, simplesmente é feliz.
Soltar sabe, voltar à infância, brincar. Sabe Vítor, por vezes mamãe esquece desta leveza, quando o que impera é a gargalhada do momento presente, os pés na areia quentinha da praia.
O dia era de vento forte e a aguá azul e cristalina do mar não chamava a um mergulho. Ao menos, não sem a roupa específica e sem a minha prancha de surf.
Confesso que me desiludi um pouco com o sonho californiano quando senti a água mais gelada da minha vida, daquela que nas palavras de uma amiga de infância "dói até o osso". Também eu vim de um país tropical e se parar pra pensar lá também reclamava dos dias quentes demais. Então, lembrei que o vento é ótimo para os esportes aquáticos, que quero aprender e me desenvolver e que água gelada faz bem pra pele, então tava tudo certo. Como tudo na vida, a escolha é nossa por ver o lado bom!
Voltando aquele dia. Foi assim de roupa, calça, casaco e pés descalços na praia, num dia de pandemia, próximo ao fim de tarde que você me chamou para brincar na areia. Tinha um buraco meio gigantesco que alguém deve ter cavado para fazer um castelo grande de areia. O castelo, na beira do mar, ja tinha desmoronado, mas o buraco continuava.
Foi então que começamoa com uma brincadeira simples. A regra era você ou eu jogavamos a pedra na agua mas tinhamos de atravessar a poça. Só não podia atravessá-la de qualquer jeito, é claro. Tínhamos de passar dançando ou pulando, ou imitando monstros ou dragões.
Você, cuidadosamente, escolheu uma pedra, a pedra perfeita segundo me explicou: textura lisa, formato oval, espessura média, se fosse pesada demais afundava e se fosse leve demais não fazia a água espirrar. Depois, tínhamos de achar a pedra e entregar pro outro.
Passamos mais de uma hora ali, até que você jogou a pedra e ela sumiu! Ficamos ali uns 30 minutos procurando, cavamos na poça em seus arredores e nada... desistimos. Mas não estavamos tristes, porque a brincadeira tinha sido engraçada, divertida e porque o por do sol colorido do oceano pacífico não nos chama a atenção e nos hipinotiza com seus tons de rosa e laranja e sol gigante.
Acho que foi ali, quando reconhecemos que o dia foi lindo e ainda felizes olhamos pro por do sol, antes de voltarmoa pra casa. Foi quando, de repente, veio uma onda gigante na poça, agora a poça iria se desfazer, mas, pasmem, a poça sobreviveu e a onda gigante simplesmente desenterrou a nossa pedra e deixou lá pra gente brincar!
Comemoramos muito, foi assim que a mágica aconteceu. Naquele momento te expliquei a lei do menor esforço. Disse que quando estamos conectados, felizes e deixamos as coisas fluirem em nossas vidas que a natureza percebe e nos retribui. Você colocou a pedra no bolso.
Já era tarde, a noite estava chegando, voltamos pelas dunas e te avisei: O que acha de deixarmos a pedra aqui, porque ela pertence a natureza e o mar foi tão bonzinho conosco! Sim e foi você que completou: verdade, quem sabe outra criança pode encontrá-la e ter seu dia mágico também.
Foi então que feliz, você sorriu e deixou a pedra lá, em meio as plantas das dunas.